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Arquitetos: COMBO Architects Studio
- Área: 145 m²
- Ano: 2022
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Fotografias:Alexander Bogorodskiy
Descrição enviada pela equipe de projeto. O edifício, construído em 1880-1881, encontrava-se, no seu interior, muito descaracterizado. Tinha sido submetido a intervenções que comprometiam o estado de conservação dos seus elementos e que desqualificavam o seu espaço interior. Apesar de originariamente ter sido concebido como edifício de habitação unifamiliar, foi excessivamente compartimentado por paredes divisórias erguidas para transformar este edifício em habitação colectiva - reflexo da excessiva vontade de rentabilidade do espaço habitacional das últimas décadas nos centros urbanos, muitas vezes (e neste caso) sem o cuidado ou respeito pela espacialidade e materialidade que esta tipologia de edifícios contém.
A intenção do projecto foi a realização de um gesto arqueológico à redescoberta dos elementos originais. Baseou-se no equilíbrio entre a preservação e recuperação dos traços e identidade originais existentes - das típicas casas burguesas do Porto (pés-direitos altos, carpintarias trabalhadas e escadaria central com uma grande clarabóia cónica no topo) - e uma operação de subtracção, recorrendo a uma limpeza e demolição dos elementos excessivos e desnecessários erguidos posteriormente, que descaracterizaram os interiores ao longo do tempo. Procurou-se, deste modo, devolver a qualidade e conforto espacial original, a fim de repor o seu uso como habitação unifamiliar.
Ocupando um terreno exíguo de 45 m2, e com 145 m2 de área bruta de construção, o projecto contempla essencialmente a reabilitação do interior do edifício (excluindo o espaço comercial no piso térreo, que não teve qualquer intervenção).
A casa, de tipologia T2, é composta por 4 pisos. Ao nível da rua está o hall de entrada, que dá directamente para a escadaria central que liga os restantes pisos. No primeiro andar encontra-se a sala e a cozinha, no segundo andar um quarto e uma instalação sanitária, e no terceiro andar outro quarto e instalação sanitária.
Pretendia-se que a casa fosse destinada a uma artista, mas seria necessário partilhar a casa com outra pessoa ocupando os dois quartos. Como as áreas são tão diminutas, chegou-se facilmente à conclusão que teria de se criar um espaço flexível, onde as áreas de descanso e de desenvolvimento artístico se combinassem. Assim, escolheu-se o compartimento do piso superior para conceber um quarto-atelier. Junto à fachada principal, em todo o seu comprimento, foi instalada uma mesa rebatível tripartida que pode assumir diversas configurações consoante a área necessária de trabalho. Quando esta não é necessária é possível recolhê-la na parede, transformando-se discretamente em lambrim de revestimento da parede.
Foram repostas algumas carpintarias (tais como rodapés trabalhados e portas com almofadas e respectivas ombreiras) que tinham sido demolidas em intervenções anteriores. Durante as demolições descobriu-se uma parede de tabique que se recuperou e se destacou no compartimento da instalação sanitária. No quarto do piso superior, que tinha tecto falso, foi posta a descoberto toda a estrutura da cobertura e uma pequena mansarda existente, o que ampliou o compartimento em altura e o inundou de luz.
Deu-se preferência ao uso de materiais tradicionais – madeira, pedra (mármore estremoz) e azulejo – e a cores claras para ampliar visualmente o interior. As características estéticas e formais da época original do edifício serviram também de mote e inspiração para algumas das escolhas na cozinha e instalações sanitárias (quer a nível de acabamentos e equipamentos quer a nível da forma dos móveis). Na cozinha é possível vislumbrar uma reinterpretação simplificada das antigas cozinhas com grandes chaminés e pias em pedra.